terça-feira, 16 de abril de 2024

Balduíno do Machado, conde truculento e justiceiro ‒ 2

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior

Detiveram-se um instante, e viram efetivamente chegar um cortejo de camponeses acompanhando um novo casal. Balduíno avançou até a esposa, e tirando um anel de seu dedo, entregou-o a ela e disse:

— Posto que o acaso conduziu-me pelo vosso caminho, que este acaso seja para vós uma providência. Se tiverdes alguma vez necessidade de mim, enviai-me este anel e pedi minha assistência, ela não vos faltará.

A exemplo dele, cada um dos cavaleiros que o seguia deu um presente à jovem, e a cavalgada senhorial retomou o caminho do castelo.

A oportunidade de usar o anel não se fez esperar. No meio de seu primeiro sono, o conde foi acordado por um de seus escudeiros.

Mostrando-lhe o anel, este lhe disse que um camponês ofegante e coberto de pó acabava de trazê-lo da parte da recém-casada da floresta.

Balduíno mandou logo que fosse introduzido o camponês, que era irmão do marido.

Relatou que, quando a recém-casada era conduzida à nova residência do casal, fora raptada pelos seis novos cavaleiros. O esposo e seus amigos quiseram opor resistência, mas como estavam sem armas, foram repelidos.

Dois ou três camponeses haviam recebido ferimentos bastante graves, tanto que a pobre jovem não teve senão tempo de jogar o anel, gritando ao seu marido: “Leve este anel ao Conde Balduíno!”

Mas o marido, que quis vingar-se por si mesmo, dera o anel ao seu irmão, incumbindo-o da missão. Em seguida, chamando toda a aldeia em seu auxílio, preparou-se para perseguir os raptores.

Balduino do Machado. Albrecht De Vriendt (1843 - 1900). Museu Real das Belas Artes, Antuérpia
Balduino do Machado. Albrecht De Vriendt (1843 - 1900).
Museu Real das Belas Artes, Antuérpia
Balduíno, não querendo acreditar em tamanha audácia, subiu aos aposentos dos cavaleiros e os encontrou vazios. Interrogou a sentinela, que confirmou que os cavaleiros haviam saído cerca de uma hora e meia antes.

O conde voltou ao pequeno camponês, perguntou-lhe para que lado se tinham dirigido os raptores, e este lhe respondeu que tinham tomado o caminho da Maison Rouge, uma taverna muito mal afamada, situada nos arredores do castelo.

Balduíno não duvidou mais que os culpados estivessem lá. Mandou que dez de seus homens se armassem o mais rapidamente possível e o alcançassem, levando pregos e cordas.

Quanto a ele, saltou no primeiro cavalo, com o machado à mão, e dirigiu-se para a taverna suspeita.

Logo que avistou a Maison Rouge, Balduíno convenceu-se de que não se enganara. O primeiro andar, fortemente iluminado, reboava com gargalhadas, imprecações e blasfêmias, enquanto o andar térreo estava escuro, mudo e solitário.

Balduíno apeou, amarrou seu cavalo a uma das argolas da parede e bateu à porta. Mas depois da terceira vez, vendo que ninguém vinha atendê-lo, arrombou a porta com um ponta-pé e entrou.

O andar inferior estava solitário e escuro. Guiado pelas vozes que ouvia, Balduíno subiu a escada e logo achou-se diante da porta do recinto do qual provinha todo o barulho.

A chave estava na fechadura, pois os cavaleiros acreditavam estar suficientemente protegidos pelas precauções que tomaram no andar térreo.

Balduíno abriu a porta sem dificuldade, lançou um olhar rápido pelo quarto e viu a jovem fortemente amarrada, enquanto seus raptores jogavam dados para ver a quem ela pertenceria.

A aparição de Balduíno foi como um raio para os culpados. Lançaram um grito de terror, ao qual a jovem respondeu por um grito de alegria.

Pelos olhares que Balduíno dardejava, viram logo que estariam perdidos se não fugissem o mais depressa possível.

Precipitaram-se em direção à escada, mas o conde postou-se diante da porta, com seu machado à mão, ameaçando fender a cabeça do primeiro que fizesse qualquer movimento. Todos permaneceram imóveis.

Nesse momento, Balduíno viu fora a luz das tochas e ouviu o galope dos cavalos que conduziam seus homens de armas.

— Aqui! — gritou-lhes ele.

Entraram pela porta arrombada, subiram a escada e apareceram detrás do conde.

— Tendes os pregos e as cordas?

— Sim, meu senhor.

Baudoin à la Hache, VII conde de nome em Flandes
Baudoin à la Hache, VII conde de nome em Flandes
— Fixai seis pregos nesta trave e preparai seis cordas.

Os cavaleiros empalideceram, vendo bem que tudo estava terminado para eles. Alguns começaram a pedir perdão, outros a se confessar em voz alta.

Mas Balduíno, sem dar-lhes ouvidos, apressava a montagem, de modo que depois de alguns minutos os pregos estavam afixados e os nós corrediços prontos.

Então fez colocar um banco debaixo das cordas, e ordenou aos seis cavaleiros que subissem no banco.

Uns obedeceram com resignação, outros quiseram oferecer resistência, mas uns e outros acabaram subindo. Ao cabo de um instante, os seis cavaleiros tinham a corda ao pescoço.

Balduíno lançou um último olhar sobre eles, para ver se estava tudo bem em ordem. Depois, satisfeito com a inspeção, afastou o banco com um ponta-pé, e os seis cavaleiros acharam-se bem e devidamente enforcados.

Nisto ouviu-se um grande alarido. Era o marido, que chegava com todos os jovens da aldeia, armados de picaretas e forcados.

Balduíno fê-los entrar todos no quarto, mostrando-lhes de um lado a jovem, que devolvia a seu esposo, virgem como havia sido raptada, e de outro os culpados já punidos. A justiça do conde andara mais depressa que a vingança do marido.

Balduíno morreu deixando a Carlos da Dinamarca o seu Condado de Flandres, em recompensa pelos grandes serviços que este prestara aos cristãos na Palestina.

Carlos da Dinamarca, depois chamado Carlos o Bom, era filho de São Canuto, Rei da Dinamarca, e de Adélia da Frísia.

(Fonte : Alexandre Dumas, « Excursions sur les bords du Rhin - Impressions de voyage », Calmann-Lévy, Paris)




GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 2 de abril de 2024

Balduíno do Machado, conde truculento e justiceiro ‒ 1

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Balduíno à la Hache, ou Balduíno do Machado, era assim denominado porque tinha o hábito de servir-se, em vez da espada, de um machado pesando quinze quilos.

Era um severo justiceiro esse conde. A reforma de quase todos os abusos e a punição de todos os crimes datam de seus dias. Relatarei dois exemplos da maneira como fazia justiça.

Três mercadores de jóias e perfumes, que pelas roupas podiam ser reconhecidos como orientais, dirigiam-se, no ano de 1112, a uma feira que devia ter lugar em Thourout, e pousaram no Hotel da Cruz de Ouro.

Sucedeu que no mesmo hotel estava hospedado, com alguns de seus amigos, o Sr. Henry de Calloo, um dos mais ricos e nobres senhores do País de Gales, o qual precisamente acabara de perder no jogo somas enormes.

Por mais rico que fosse, não sabia como pagá-las. Vendo os mercadores e suas esplêndidas mercadorias, o demônio o tentou, e veio-lhe a idéia fatal de apoderar-se de suas jóias e dinheiro.

Antes de partir, os mercadores enviaram na frente servidores com o encargo de lhes prepararem os alojamentos. Pensando que não tinham nada a temer, deixaram Bruges duas horas após seus mensageiros.

Henry de Calloo e seus amigos deixaram que eles tomassem a dianteira. Então, alcançando-os no momento em que atravessavam um bosque, caíram sobre eles e os assassinaram. Tendo conduzido os cadáveres à parte mais densa do bosque, apoderaram-se de todo o ouro e jóias que os infelizes mercadores tinham consigo.

Entretanto, os servidores, depois de terem tudo preparado para a chegada de seus senhores, vieram aguardá-los na porta da cidade. Como o tempo corria e os mercadores não chegavam, começaram a preocupar-se, e viram então chegar Henry de Calloo com seus companheiros.


Saíram imediatamente ao seu encontro, para lhes perguntar se, posto que dispunham de tão boas montarias, não tinham encontrado e ultrapassado seus senhores.

Mas os flamengos responderam, com um ar perfeitamente natural, que não compreendiam essa pergunta, visto que os mercadores, tendo partido de Bruges bem na frente deles, já deveriam ter chegado a Thourout àquela hora.

Essa resposta redobrou os temores dos criados, que a partir daí se separaram. Três ficaram na porta da cidade e três voltaram pelo caminho de Bruges. Chegados ao bosque, viram a terra manchada de sangue. Seguiram o rastro, e após alguns passos dentro do bosque encontraram os três cadáveres.

Então, sem perder um instante, sem mesmo fazê-los transportar, foram correndo a Wynendaele, onde estava o conde, para denunciar o crime e pedir-lhe vingança.

Balduíno ouviu-os com a atenção e a gravidade que exigia semelhante denúncia. Quando terminaram o relato e o conde lhes tinha feito detalhar todas as circunstâncias, perguntou-lhes se não tinham alguma suspeita sobre quais seriam os autores do assassinato. Os pobres servidores entreolharam-se, tremendo e sem ousar responder.

Mas interrogados novamente pelo conde de maneira mais premente, responderam que as únicas pessoas sobre as quais podiam recair suas suspeitas, se lhes era dado ousar suspeitar de poderosos senhores, eram Henry de Calloo e seus dois companheiros.

A acusação era tanto mais grave quanto atingia personagens dos mais elevados. Balduíno então ordenou que os denunciantes fossem mantidos sob vigilância num castelo, enquanto ia sozinho a Thourout.

Com efeito, mandou selar seu cavalo, e sem dizer a ninguém para onde ia nem permitir que ninguém o acompanhasse, partiu a galope. De resto, como era habitual vê-lo fazer essas expedições solitárias, e contanto que levasse seu machado, ninguém se preocupava. Seus criados viram-no afastar-se ao longe, dizendo entre si:

— Bem, amanhã ouviremos contar alguma coisa de novo.

Atravessando a grande praça de Thourout, Balduíno notou um grande ajuntamento de povo, que começava a se dissolver. É que naquele mesmo lugar acabavam de ser executados dois falsários de moedas, de sorte que os caldeirões cheios de azeite fervente, onde haviam sido jogados, estavam ainda lá.

Balduíno, ao passar, ordenou que se reacendesse o fogo sob os caldeirões, a fim de que o azeite se mantivesse num grau de ebulição conveniente, e continuou seu caminho.

Chegando ao albergue onde estavam hospedados Henry de Calloo e seus dois companheiros, fez-se reconhecer pelo hospedeiro, e como eles haviam saído, subiu com este ao quarto.

Seus cofres estavam no chão e fechados a chave. O conde mandou romper as fechaduras, e aí encontraram as jóias dos mercadores.

Logo Balduíno fez prender Henry de Calloo e seus dois cúmplices. Tendo-os feito conduzir à praça pública, onde os aguardava, interrogou-os com tal severidade que, graças às provas que o conde tinha já em mãos, não ousaram sequer por um instante negar seu crime.

Assim que a confissão foi feita, e sem dar-lhes tempo de tomar nenhuma providência, o conde fê-los agarrar, vestidos e armados como estavam, e os fez jogar nos caldeirões, à vista do povo, que teve assim dois espetáculos no mesmo dia.

Um outro dia, Balduíno acabava de ter a assembléia de seus Estados em Yprès. Como era uma grande cerimônia, e para dar-lhe ainda mais brilho, havia naquele dia armado seis cavaleiros, todos pertencentes às mais nobres famílias das Flandres.

Segundo o juramento habitual, estes haviam prometido dar proteção aos fracos, às viúvas e aos órfãos, mediante o que Balduíno lhes dera a accolade com suas próprias mãos.

Concluída a cerimônia, Balduíno retornou a seu castelo, acompanhado dos novos cavaleiros que armara. Quando atravessavam a floresta dos seus domínios, notou os preparativos de uma festa.





GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 19 de março de 2024

Enrique conde de Champagne, largo com Deus e com os homens

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Enrique, conde de Champagne e Brie foi chamado o conde Enrique o Largo, e ele mereceu bem esse nome, pois ele foi largo com Deus e com os homens.

Que foi generoso em relação a Deus atestam-no a igreja de Santo Estevão de Troyes e as outras igrejas que ele fez construir na Champagne.

E generoso em relação aos homens como ficou manifesto no caso de Artaud de Nogent e em muitas outras ocasiões.

Artaud de Nogent era o burguês em quem o conde mais confiança tinha no mundo. Ele era tão rico que pagou de seu próprio bolso o castelo de Nogent l’Artaud.

Aconteceu que o conde Enrique descia de seu palácio em Troyes para ouvir a Missa em Santo Estevão num dia de Pentecostes.

Embaixo da escadaria um nobre cavaleiro pobre se pôs de joelhos e lhe disse estas palavras:

‒ “Meu senhor, eu vos rogo em nome de Deus que me deis do vosso para que eu possa casar minhas filhas que vós vedes aqui”.

Catedral de Troyes, região da Champagne, França
Artaud, que vinha atrás do conde, disse ao cavaleiro pobre:

‒ “Senhor cavaleiro, não é cortês pedir a meu senhor, pois ele deu tanto que não tem mais nada para dar.”

O generoso conde voltou-se para Artaud e lhe disse:

‒ “Senhor vilão, vos não dizeis verdade dizendo que eu não tenho mais nada para dar: eu vos tenho a vós mesmo!”

E se dirigindo ao cavaleiro, disse:

‒ “Tende, pois, senhor cavaleiro, eu vos dou ele, e eu fico garante da doação”.

O cavaleiro não perdeu o sangue frio, e pegou Artaud pelo manto dizendo que não largaria enquanto ele não pagar.

E antes do conde se afastar, Arnaut já tinha entregue quinhentas livras.



(Fonte: Joinville, “Vie de Saint Louis”, Livre de Poche, Garnier, Paris, nº91)



GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 5 de março de 2024

Skanderbeg, herói da Cristandade contra o flagelo dos turcos (II)

Monumento a Skanderbeg na Albânia
Monumento a Skanderbeg na Albânia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








continuação do post anterior: Espada da Cristandade contra o Islã na Albânia: Jorge Castriota, chamado 'Skanderbeg' (I)


Em 1457, amargurou a Skanderbeg, o herói albanês, a defecção de seu sobrinho Hamsa, que se uniu aos implacáveis inimigos da fé e sequazes do Islã.

Naquele ano, o sobrinho renegado invadiu seu país, acompanhado do general turco Isabeg com numeroso exército. Skanderbeg tinha para defendê-lo apenas 12 mil homens. Por isso, não enfrentou diretamente o inimigo, mas procurou atraí-lo para lugares isolados.

Em 2 de setembro desse ano, Skanderbeg, num combate sangrento, obteve a vitória nos arredores de Tomorniza, surpreendendo o exército turco enquanto este se entregava ao repouso.

Mais de 15 mil turcos foram mortos e 1500 feitos prisioneiros, entre eles o renegado Hamsa, a quem Skanderbeg poupou a vida, mas enviou-o a Nápoles para que estivesse preso com segurança.

Em carta de 17 de setembro de 1457, escreveu o Papa ao general albanês:
"Amado filho: perseverai do mesmo modo no futuro, em defesa da Fé Católica, pois Deus, por quem pelejais, não abandonará sua causa; Ele vos dará, estou seguro disso, a vós e aos demais cristãos, junto com a maior glória e triunfo, a vitória sobre os malditos turcos e demais infiéis".(4)

O Sumo Pontífice mostrou seu júbilo pela vitória obtida, nomeando Skanderbeg Capitão General da Cúria na guerra contra os turcos.

O elmo do herói cristão albanês em Viena
O elmo do herói cristão albanês, conservado em Viena
Conclama os príncipes do Ocidente a uma Cruzada

Depois dessa vitória, o herói albanês escreveu aos príncipes do Ocidente, dizendo-lhes que não tinha condições de continuar sua guerra contra os turcos se não recebesse deles auxílio.

Que era chegado o tempo em que esses príncipes despertassem do sono a que até então tinham se entregado, renunciassem às suas discórdias e se coligassem para defender a liberdade do mundo cristão.

Somente Nápoles ouviu seu apelo e mandou algumas tropas.

A Albânia resistia havia dezenove anos ao poder dos sultões. Apesar de algumas derrotas e enfraquecido pela defecção de certos aliados seus, Skanderbeg mantinha contínuo assédio às tropas turcas.

Maomé II resolveu então acabar de vez com essa resistência, enviando contra ele todos os seus generais. Mas quando três deles foram derrotados, o próprio Maomé pediu a paz em 1461.

Três anos após, o Papa Pio II pregou uma nova Cruzada. Skanderbeg derrotou sucessivamente dois generais dos mais importantes do sultão.

Depois, cedendo aos apelos do Papa, ajudou a repor no trono de Nápoles a Fernando, filho de Afonso V, que havia sido destronado por João de Anjou.

Com o apoio do Papa, vence o cerco de Kruja

Na primavera de 1466, um exército turco - composto, segundo uns, de 200 mil homens; segundo outros, de 300 mil - invadiu a Albânia, comandado pelo próprio Maomé II.

Replica das armas de Skanderbeg no museu de Kruje, Albânia
Replica das armas de Skanderbeg no museu de Kruje, Albânia
Pouco depois, circulou pela Europa a notícia de uma derrota de Skanderbeg, devido à traição e abandono de muitos cristãos.

O pânico apoderou-se sobretudo dos italianos, tanto mais que a notícia vinha acompanhada de outra, a de que um exército turco já ameaçava a Hungria.

Felizmente a notícia da derrota do herói albanês era falsa.

Não podendo enfrentar exército tão numeroso, entregara-se à tática de guerrilha, que tantas vezes lhe tinha sido eficaz.

Estabeleceu uma forte posição nos bosques de Tumenistos, e desde lá fatigava o exército turco por meio de surpresas, falsos alarmes e fugas simuladas.

A tática foi empregada por tanto tempo, que foi desgastando o exército infiel, acostumado a travar uma guerra regular.

Cansado, Maomé retirou-se a Constantinopla para passar o inverno, deixando o general Balaban à frente de 80 mil homens fazendo o cerco de Kruja.

Skanderbeg: gravura póstuma destaca seu perfil mítico
Skanderbeg: gravura póstuma destaca seu perfil mítico
Como Skanderbeg, com seus poucos homens, não podia levantar o cerco, dirigiu-se à Itália em busca de socorro, armas e dinheiro.  

O Papa e os cardeais o receberam entusiasticamente em Roma, e "com muitos presentes e uma considerável soma de dinheiro regressou Skanderbeg aos seus, alegre e animoso", escreve seu primeiro biógrafo Bartelius.(5)

De volta à Albânia, Skanderbeg derrotou os turcos em abril de 1467, fazendo prisioneiro um irmão de Balaban.

Pouco depois alcançou outra vitória, ocasionando a morte do próprio Balaban.

Com isso as tropas turcas fugiram, e levantou-se o cerco de Kruja.

Grandeza de alma, lealdade e fé sincera

Mas o heroico guerreiro estava no fim.

"Vinte e quatro anos de luta contínua esgotaram aquela natureza de ferro. E, havendo sido atacado pelas febres, morreu em Alessio aos cinquenta e três anos, terminando assim a epopeia albanesa [...].

"À grandeza de alma, à lealdade, a uma fé sincera, juntava ele uma inteligência extraordinária, uma penetração segura e uma sagacidade pouco comum [...].

"Caritativo e humano, não parecia o mesmo homem na guerra; pois, fogoso, violento, às vezes impiedoso, chegava a assustar os mais valentes: até esse ponto o exaltavam seu ódio pelos turcos e seu amor à independência [da Albânia]".(6)

Nossa Senhora do Bom Conselho foi miraculosamente trasladada pelos anjos de Scutari na Albânia até Genazzano na Itália, onde hoje é venerada
A imagem albanesa da Mãe do Bom Conselho transferiu-se milagrosamente,
pelos ares, para Genazzano, na Itália,
À notícia de sua morte, seu mais feroz inimigo, o sultão Maomé II, exclamou: "Por fim, me pertencem a Europa e a Ásia. Ai da Cristandade, que acaba de perder sua espada e seu escudo!".(7)


Mas Nossa Senhora tinha outros desígnios sobre a Cristandade.

Após as infidelidades do povo albanês e da morte de Skanderbeg, a imagem albanesa de Nossa Senhora do Bom Conselho transferiu-se milagrosamente, pelos ares, para Genazzano, na Itália, acompanhada por dois devotos que atravessaram a pé o Mar Adriático.
________
Notas:
(1) Ludovico Pastor, Historia de los Papas, Gustavo Gili, Barcelona - Herrero Hermanos, México, 1910, vol. II, p. 422.
(2) www.masterclass. Spunti tratti da un'articolo di A. Raspagni sulla Rivista "Militaria", nº 11, anno 2.
(3) V. Fallmerayer, Albanes. Clement 5. 7. Apud Pastor, op. cit. vol. II, p. 423.
(4) L. Pastor, op. cit., vol. II, p. 427.
(5) Cfr. L. Pastor, vol. IV, p. 82.
(6) Diccionario Enciclopedico Hispano-Americano, Barcelona, Montaner y Simón, Editores, 1896, tomo XVIII, p. 819.
(7) L. Pastor, op. cit., vol. IV, p. 84.

(Autor: José Maria dos Santos, "Catolicismo", abril de 2004)



GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS