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O império de Nath Finanças, que ensina a reduzir gastos e economizar dinheiro

Aos 22 anos, Nathália Rodrigues é referência em educação financeira e foi eleita uma das 50 maiores líderes do mundo

Por Ligea Paixão (colaboradora)
19 jun 2021, 10h00

Sonhadora e atrevida, Nathália Rodrigues tinha seu destino como administradora traçado desde a infância, na periferia de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Nas brincadeiras com o irmão, ela sempre escolhia ser a gerente do hotel imaginário. O tino para os negócios se consolidou anos depois, com a decisão de cursar administração no ensino técnico e superior.

A escolha foi certeira e ter se encontrado no tema inspirou a estudante a dividir seus conhecimentos sobre finanças pessoais nas mídias sociais. Sem edições profissionais, improvisando com a câmera do celular, usando vocabulário descomplicado e ilustrando suas ideias com desenhos coloridos, ela chegou ao YouTube, em 2019.

Antes disso, Nath Finanças, como é conhecida por seu público, passou um ano planejando a empreitada. O que a estudante de administração nunca imaginou, porém, é que o conteúdo mudaria não só a sua vida, mas a de milhares de brasileiros.

Febre desde o lançamento, o canal Nath Finanças reúne materiais didáticos sobre educação financeira voltados para pessoas de baixa renda, sejam elas funcionárias com carteira assinada, estagiárias, menores aprendizes, microempreendedoras individuais (MEI) ou pequenos comerciantes.

Os vídeos protagonizados pela administradora ganharam ainda mais fãs durante a pandemia – todos buscando o jeito de Nath de desvendar a dura equação de economizar mesmo com pouco dinheiro, proveniente de um salário enxuto ou até de um subsídio, como o auxílio emergencial.

“Se você me perguntasse, em 2018, se eu conseguiria administrar meu próprio negócio, diria que jamais. Foi tudo muito rápido. Inclusive, só agora que vou conseguir pegar meu diploma”, diz Nathália, 22 anos. “Quando você entra no YouTube para criar, não sabe se as pessoas vão gostar da forma como você fala, ainda mais eu, que não era tão comunicativa antes e não tinha estrutura ou instrução para essa parte”, completa.

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De família humilde, Nath cresceu no bairro da Posse, onde ocorreu uma das maiores chacinas do Rio de Janeiro, em 2005. Testemunhar de perto a violência foi apenas uma das adversidades que a jovem teve que enfrentar. “Minha rua alagava toda vez que chovia muito e, para ir à escola ou sair, tínhamos que amarrar sacolas de plástico nos pés”, relembra a youtuber, que se preparou para o vestibular em casa, pois não tinha dinheiro para custear um cursinho.

“Eu até consegui passar em uma faculdade pública em Nova Friburgo, mas era longe da minha casa e não tinha como minha mãe pagar a república e me manter lá. Desisti da vaga para tentar uma bolsa em uma particular mais próxima, e deu certo”, fala sobre a trajetória, mostrando como destoa do discurso meritocrático que muitos defendem e que ela repudia.

Durante a infância e a adolescência, Nath acompanhou os conflitos no lar, resultado do planejamento financeiro precário. “Eu nunca tive educação financeira em casa, não tinha essa dos meus pais sentarem juntos para organizar as contas. No final do mês, era sempre um estresse para pagar as contas e tentar entender para onde o dinheiro tinha ido. Apesar disso, meus pais foram meus guias de economia doméstica, pois nisso eles são especialistas. Faziam cloro em casa e sabonete com óleo de cozinha. Fui bem preparada para o mundo”, garante.

Quero crescer ainda mais e alcançar mais pessoas, mas com a visão de que não preciso ter milhares de seguidores para ter relevância, preciso impactar

A quebra nos padrões

Assim como na casa de Nath, grande parte dos lares brasileiros não tem nenhum tipo de planejamento financeiro – uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e Serviço de Proteção ao Crédito (CNDL/SPC), de 2020, mostra que cerca de 48% das famílias brasileiras não controlam o próprio orçamento.

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Para a fluminense, isso nunca foi motivo de medo ou vergonha de mostrar sua identidade e origens. Logo na vinheta dos seus primeiros vídeos, ela deixava explícito que era uma pessoa ambiciosa querendo quebrar padrões e vencer o preconceito em um campo que ainda é muito marcado pelo machismo, pelo preconceito cultural e racial.

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(Divulgação/Reprodução)

“O mercado financeiro é de muitos homens brancos engravatados oferecendo cursos para você sobre como ganhar milhares de reais e, quando há mulheres, elas são todas brancas. Você não vê uma mulher negra falando do mercado financeiro nas grandes mídias. Não é que não exista, é porque elas não têm visibilidade. Quando se é uma mulher negra e, ainda por cima, da periferia, as pessoas questionam tudo o que você se dispõe a fazer ou falar”, afirma ela.

Incomodada de ser vista apenas como um indivíduo vulnerável, Nath mostra que os padrões impostos não cabem a ela. “Nós, pessoas pretas, sabemos falar de outras coisas além de racismo. Já fui resumida a uma mulher preta e periférica, mas sou muito mais que isso. Estudei quatro anos para ser administradora, sou a primeira pessoa da família a se formar numa faculdade, sou empresária, autora, faço podcasts e tenho muita coisa para oferecer.”

Além dos rótulos ligados à classe e raça, a criadora de conteúdo também esbarra em situações em que é subestimada por causa da idade. “As pessoas falam como se elas pudessem ensinar finanças por serem mais velhas e eu não, pois faltaria a vivência. Tenho minha experiência”, aponta Nath.

Não adianta só dar um salário, porque não é isso que segura alguém num emprego. é a qualidade de vida, entender as dores dos outros e saber que, às vezes, nem tudo vai estar bem

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Humanizando o mundo das finanças

A empresária defende que a inclusão das pessoas com baixo poder aquisitivo às medidas de saúde financeira passa pela melhoria da acessibilidade, inclusive do ponto de vista da linguagem.

“Quando colocam jargões econômicos, afastam a população, que, consequentemente, por não entender nada, aceita tudo o que é falado. É importante quebrar esse padrão e simplificar termos. Assim, a pessoa tem independência para questionar e tornar mais justo o nosso sistema financeiro”, alerta Nathália.

Outro ponto que a administradora ressalta é o impacto emocional que os problemas financeiros podem provocar. “Quando uma pessoa pega o ônibus para trabalhar, ela não está pensando só em como chegar no destino, mas na conta que vai pagar com aquele dinheiro que está ganhando. Falam a todo momento que, se estamos endividados, a culpa é nossa. Eu não quero ficar apontando o dedo na cara de ninguém e prejudicar sua saúde mental só porque tem dívidas”, afirma, destacando a realidade de mais da metade dos brasileiros.

Segundo um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o número de brasileiros endividados em 2020 foi o maior dos últimos onze anos: cerca de 66,5%.

Construção do império

A bagagem acumulada durante os anos impactou não apenas a comunicação com as pessoas, mas também o jeito de Nath fazer gestão. “A conquista de contratar alguém com a carteira assinada foi algo muito marcante para mim. Eu me preocupo em fazer o meu máximo, porque é gratificante ter pessoas que estão sendo bem pagas antes dos prazos, com direito a vale-refeição, bonificação de aniversário, flexibilidade e muito mais. Não adianta só dar um salário para pessoa, porque não é só isso que segura alguém num emprego. É a qualidade de vida, é você conversar e entender as dores dos outros e saber que, às vezes, nem tudo vai estar bem. Não é só produzir, produzir e produzir. Gosto de compartilhar os meus feitos para motivar outros empresários e mostrar que nem todas as pessoas de negócios são arrogantes”, diz Nathália, contando que chorou quando recebeu seu primeiro vale-refeição. Desde então, comemora cada passo de seu crescimento.

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A empatia, exercida de forma tão orgânica, é reflexo de sua realidade, em que a marmita já estragou no calor do ônibus e as contas se apertavam para caber no salário de 1,2 mil reais que recebia até abril de 2020. “Eu me perguntava: ‘Será que não estudei o suficiente? Será que não vendi bolinho de pote e brigadeiro o suficiente?’. A gente se sente impotente e não deve ser assim. Foquei nesse público-alvo e criei o projeto para ajudar gente como eu, que estava com dificuldades financeiras.”

E deu certo! Além da troca direta com o público, a administradora foi reconhecida internacionalmente pela revista norte-americana Fortune, com a inclusão na lista dos 50 maiores líderes do mundo em 2020. “Juro que chegou a bater uma síndrome de impostora”, brinca Nath ao relembrar a sensação de ler o e-mail que mencionava a sua nomeação.

“Fui reconhecida pelo trabalho que sigo desempenhando mesmo em um momento tão complicado. Consegui oferecer informação de maneira correta quando todo mundo estava perdido, sem saber o que era a doença, com muitas dúvidas e poucas respostas. Criei a minha comunidade, com pessoas de todas as idade”, reflete a administradora.

Ela já vê retorno do investimento que fez em cenário, equipamento e outras demandas do canal – ao qual dedica-se integralmente agora. Mas a jovem visionária ainda tem metas a bater.

“Quero fazer mestrado, ensinar educação financeira para crianças com o auxílio de pedagogos, elaborar novos quadros para o canal, falar mais sobre investimentos, ser referência de finanças para o microempreendedor individual, crescer ainda mais e alcançar mais pessoas, mas sempre com a visão de que eu não preciso ter milhares de seguidores para ter relevância, preciso impactar. Foi isso o que me trouxe até aqui”, considera Nath, que, com seu jeito, além de ensinar, é uma verdadeira motivadora.

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